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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Borboleta de Mata Atlântica - Sete Barras/SP

Tristeza IV

Caixa-postal
Hálito de mar, olor de rosas
Hoje acordastes tão triste, meu amor!
Caixa-postal
Lembranças se esfacelando na ponta de teus seios
Luzes diáfanas, uma grega sem ilha
Dragões cegos
Caixa-postal
Pedra, vidro quebrado, paralelepípedos que há muito não pisas
Uma jóia ver você viajando com outros
No canto da areia observo todo o oceano
O paredão rochoso
Caixa-postal
Deixas me mais velho, apenas me deixas tanto
Toda vez me deixa
Eu com meus olhinhos de fogo, de água, observo
O amor impossível
Escorre
Por entre os dedos, no teclado, ouvido
Caixa-postal
Como será o futuro agora?
Se já não me cantas com tua voz doce todas as manhãs
Como será o futuro?
Sei o quanto Cristo é bom, quanto a vida dá voltas, sei o quão distante estás
Teu rosto amassado marejado de amor
Desperta
Caixa-postal
Alternativa, pele trincada de vultuosas ferroadas de abelhas
Saciadas do mel de teu sangue
Candeia, eucalipto, boca cerrada
Estou tão mal, amor!
Sem saúde, esperança, em um leito de morte que o futuro não me retirará
Os lençóis brancos, as enfermeiras com seus decotes, tosse
Ninguém me visita, sequer um padre para dar a última-unção
Relembro a escola, meus queridos amigos
A natureza mais linda por qual caminhei
Teu hálito de mar
Caixa-postal.

Urucum (Bixa Orellana) - Sete Barras/SP

Tristeza III (21 de Abril)

Não aceitas mais o cavalheirismo
Vives isolada, triste, sem forças
Horóscopos não lês
Lágrimas que escorrem em uma Itália agrícola e selvagem
Tua face, meu coração
Os raios de sol já não mais refletem teus cabelos de fogo
E teus olhos sem brilho e atitude morrem em minha alma
Branca como o vestido de cambraia que nunca usastes
Falta a respiração
A respiração falta
Buscas os índios xamãnicos de peles vermelhas, mas eles não te curam
Um poço transparente, página virada
Livro aberto
Praia sem sol
Areia negra
Inconsolável
Ausência total de alegria
Chuva
Ausência de montanha
Amor
Que cantas em verso, chama
Emergência
Natureza morta, retorno
Sentar ao teu lado e sentir a fragância calma que exalas pacífica o espírito
Caso contigo, da tua presença desejo sempre e mais que sempre
Branco
A saudade que outrora sentia hoje é leve
Sequiosa por notícias que não sei como ter
Um coelho
Meus dentes brancos de cálcio, tua pele alva
Lábios rubros, rabiosos, boca seca
Cachos de caramelo em mãos de unhas negras, febre
Para fazer o bem precisas degradar, ter a alma ríspida?
Nada doas, se apegas a velharias que não te trazem o novo
Colocas dez Reais no tanque de combustível para chegar
Chegas
Distante de casa
Teus dias são sem viagens, o olho-de-boi esquecido em um canto da mesa
Nunca teves um porta-retrato
Uma caixinha para guardar preciosidades
Não cultivastes hortas, apesar de todos os dias plantar duas árvores
Relembras 1792, mas as letras douradas que refletem a meia-luz são 1822
O Paraíso permanece lá, somente você sabe
Com um poema agrado duas, três
Mas eu não me agrado, agradeço a noite, escrevo na tentativa de extirpar
Com o coração arregaçado não extirpo nada, tudo o que vivemos juntos e distantes outra vez é fogo
Paisagem ausente
Natureza morta pregada na parede de tua sala
Aviso
Reitero um sol que não compreendes
Rezo
Por Tiradentes.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Garça Só em Árvore de Caixeta (Tabeluia caáinoides) - Sete Barras/SP

Solidão

Sigo invariavelmente só a minha jornada
Tento recompor a tela etérica e até mesmo a tela búdica
Fortalecendo o perispírito dos anos de coração estilhaçado
Tomo banho na cachoeira, no mar
Intento comprar uma muda de arruda
Cabeça-de-negro
Trocar o carvão ativado do filtro de água que há anos utilizo
Nada basta
Nestes tempos de solidão, sinto falta da terra-roxa
Do cheiro de chuva a cair na terra
Da Atlântida, da Lemúria e de Roma
Dos versos diáfanos que nunca soube fazer
Magos e feiticeiros não me rondam
Rezo ao Cristo e o Cristo vem
Com suas mãos iluminadas, seu sopro benfazejo
Auxilia na reconstrução de minha tela búdica
De meu amor dilacerado, pronto a imantar
Não frequento mais boates, casas noturnas onde ao sol não se permite entrar
Inexiste ali a limpeza espiritual necessária, a qual somente os raios do astro-rei podem iluminar, quiçá minha vontade
Flui a água de meu corpo, de meus glóbulos vermelhos e brancos
De todo meu interior
Conforme as fases lunares
As formas fluídicas de polvos, tufões negros, a rodear meu plexo mental já não mais existem
Hoje sou outro homem
Um homem só.
(Que Pai João me proteja).

domingo, 10 de abril de 2011

Nuances - Sete Barras/SP

Mais Poesia

Um soco na cara, afago
Xingamentos feios, palavras de consolo
Risco na carne, esparadrapo
Me largas no frio, sem agasalho e casa
Não choro, tremo na vã tentativa de aquecer o corpo
Regozijas-te com toda minha dor, minha solidão mais uma vez vã
Feres me com a faca incadescente, com o picador de gelo
Com espátulas, alicates, postagens, objetos perfurocortantes
Silêncio
Demais instrumentos de tortura, espátulas, tesouras
Martelos, espinhos, chutes
Cera quente, pedras, pregos
Ausência de comida, correntes
Trancas a porta e vai embora sem data para voltar
Saltos finos, mordaça, fita, algema, ácido
Ponta de caneta na qual só ameaças, mas não escreves nada em meu corpo
Enquanto rí
Epifania
Egrégora
Mochila carcomida
Pimenta nos olhos, na boca
Facão, arma-de-fogo, pá, enxada e carabina
De fora, do frio, me mandas entrar em teu quarto quente
Preparas uma xícara de chocolate fervendo
Afagas meus cachos, me ofereces suco de maracujá para dormir
Recuso
Olho resoluto para o crucifixo na parede, suspenso sobre a cama
Teus olhos tão profundos refletidos pela luz da vela...
Teus cabelos negros sem os reflexos das luzes do sol...
Retiras as luvas de couro de tuas mãos alvas, unhas pintadas de negro
Mais uma vez afagas meus cachos
Olho assustado para tua face
Me dás um beijo.

Pimentas na Mata - Sete Barras/SP

Roteiro de Viagem

Retorno hoje do Vale, com a mochila carcomida e um pouco de emoção na alma
Retorno só, conforme prometido
Retorno

Extirpando egrégoras, epifanias, poeira
Colhi limões-rosas, frutas-do-conde
Pimentas vermelhas em contraste com a mata verde
Não endureci com os simples de alma
Os sem-dentes, corações bons e sofridos
Purifiquei o espírito ao percorrer parelelepípedos
Entristeci com desmatamentos
Nas estradas cheias de barro vaguei
Errante, vaguei com a barba crescida, certa revolta
Retorno
Andei por entre engravatados, não me senti tão feliz
Pensei na dor de tua ausência
Na impossibilidade daquele retorno, nos raios de sol nos cabelos de meu amor
Em rosas, prantos e seiva
Assa-peixes, garças altivosas
Búfalos, solicitações de mudança de lei
Pais-de-santo, rezas, janelas
Avistei novamente os vestidos nas vitrines do tempo
Como chegamos a tal ponto?
Invades este recinto nas madrugadas em busca de novidades
De fotos, versos, nuances
Provas, lágrimas, tiês avermelhados
Não me esquecerei quando, ao caminhar pela trilha, ao longe um gavião voou
Longe
Não deixou rastros
Uma pena para te presentear.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Flor Qualquer - Iguape/SP

Tristeza II

Vivo de um passado qualquer
Sem fé
Vazio
Não encontro companhia, mata, repelente
Roupas dobradas na mochila carcomida pelo tempo
Estrada, amor não há nenhum
Amanhã embarco mais uma vez para o Vale
Sem voz feminina qualquer
Apenas botas de borracha
Chuva fina, coração dilacerado
Quando voltar, voltarei só
Acredito e espero encontrar a pena de tiê-sangue
Ver o gavião
Uma pena só
Qualquer tristeza tardia
Um perfume tão doce que lembre seu sorriso
Fulgurante, teus cabelos banhados com pontas de sol
A ironia de teus dentes de mata
Rapidez de pensamentos desconexos
Bebe
Aprofundas o martelo na carne, disparando pregos de restinga
Farpas ombrófilas
Regeneração de palhaço
Que se esvai em sangue rubro de tiê
É tempo
E rís
O riso vermelho, desconstraído das caiçaras
Do interior da alma
Buscas asas, banana-da-terra
Administrativamente, te arranco dessa cadeira fria
Jogo-te em ares de vida
Nunca d'antes respirados
Ares que voam gaviões, tiês e os pássaros brancos cristalizados de Renata Maria
Tudo te parecerá demasiadamente alegre
Enquanto o poeta que percorre estradas cinzas
Se distrai
Se esvai nos olhos de mel qualquer
Porta infinita de algo que desconhece
Nunca há de conhecer.