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quinta-feira, 30 de junho de 2011

A Rainha em Minhas Mãos - Trilha na Estrada do Lageado - Iporanga/SP

Ilha Comprida II

Não mais que de repente a gata branca mia e aparece em cima do telhado do casarão histórico
Corujas imensas sobrevoam a praia
Siris fantasmas aparecem fosforescentes
Carcarás
A todas que não foram, adeus
As asas da trinca-ferro são fortes e me acompanham pela Restinga
Caxeta
O rei aqui sou eu, acompanhado de minha rainha somos fortes e somos únicos
Ela me faz sorrir e me acompanha
Comigo bebe e fuma
Sou pouco para ela, em seu universo tão amplo
Mas sou eu que por enquanto a protejo e por ela oro
De paixão, não fomos à procissão de Nossa Senhora Aparecida
Consegui a foto dela com boa luz, o navio pirata ao fundo
“Como você comeu muito, moço!”
Paro na vaga do deficiente
Não respeito os quarenta e cinco graus
Transito por estradas a noite
Tenho erros relativos à crase
Profetas, quilombolas, grutas
Do mar fui para as cavernas, para baixo da gruta de areia
Onde só ali habita o bagre cavernícola
Com seus olhos escuros de fogo, na Ombrófila, calo
Diante do tornado em Joplin
Despenco com o carro por penhascos
Não sinto fome mas não me sinto fraco
Hoje caminhei muito pela mata de pedras
Na casa, de pedras, durmo
Fujo tanto meu bem
Rodo, não atolo, agora chove nas montanhas adormecidas
Aqui não há internet, luz elétrica
Teclas, dedos quentes, língua
Pátria de ninguém teu corpo, sentado em um banco no canto do quarto espero e observo
Na trilha, por volta das três, peguei uma borboleta colorida na mão
Laranja
Teu perfume de limão-rosa, teu cheiro
O sino tocou
Às três horas da manhã
Intensa a coruja que só vi quando voou
Beijo, traição, floresta, despenhadeiros de pedra e mata
Faca
Chuva, serrilha
Hoje vi um porco e seus filhotes meu bem
Um leitão sem pêlo neste frio
O animal morre, proteja-o, leve-o ao estábulo para descansar quando a noite cai sem luz elétrica
Aqui mais em baixo o Ribeira descendo até Iguape
Ilha Comprida, Barra do Turvo, Iporanga
O Ribeira dorme comigo, em seu fluxo natural, por duas noites
Três da manhã não acordo sobressaltado
Descanso acordo cedo a espera de seu café
Volto a dormir, lá fora a montanha mágica acinzentada dos ciganos
Bem ao longe renasço
Naturaleza, pássaro mágico, você que não assina, beijo
Na princesa de meu coração.

domingo, 12 de junho de 2011

Flores a uma Flor - Campos do Jordão/SP

São João

Estou cansado de te fazer sofrer
Com meu silêncio, minha ausência, meus devaneios
Minha poesia está cansada de te fazer sofrer
Com suas mentiras, sua presença, suas citações
Estouro uma ampulheta, piso nos cacos finos de vidro, corto o pé
Assisto impávido ao tornado em Joplin
Olho para todos os galhos da floresta em busca do tiê-sangue
Atravesso o braseiro em Mato do Tição no São João
Coloco bambus verdes na fogueira
Estouro uma ampulheta
Com meu chapéu-de-palha, o rosto pintado de carvão
Estou cansado de te fazer sofrer com meu silêncio
Meus convites se dissolvem em água
Prometo parar, te ligar, tirar fotos à noite na praia
Buscar estrelas-do-mar, tubarões, tiês-enferrujadas, siris fosforescentes
Cogumelos esverdeados em troncos queimados, como pés no braseiro de Jaboticatubas
Queimaduras de terceiro grau, camisa de flanela
Pinhão, gralha-azul, estrelas esvoaçantes, tuberculose
Vou me embora e finalmente irei parar de te fazer sofrer
Destruirei minha horta, colherei as mandiocas para o povo de Santo Antônio
No dia 29 de junho irei embora sob chuva intensa, com Pedro e Jesus
Retornarei em 19 de março de 2012, juntamente com a chuva de goiabas, com a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens
A barba amarelo-ouro, pés desgatados pelos paralelepípedos, cachimbo na boca
Tacape
Voltarei cansado de te fazer sofrer.

Santa Enclausurada - Gruta dos Crioulos - Campos do Jordão/SP

Enseada

Se a solidão resvalar a pele sensível de teu rosto, não derrame lágrimas quentes
Amanhã talvez o sol brote, talvez fique nublado
Com chapéu de bruxa irás sair pela noite, pelas cavernas
Pelos pêlos de teu corpo toco, espero ires à praia
O tempo de inverno chega, o outono se esvai, hoje, dia doze
Não responderás jamais sobre seu mundo, haverá um dia que voltarás a me provocar e perguntar do meu
Caso com quem não conheço, costuro vestido de noiva enquanto ao meu lado está o querubim
Contra-luz, Carmem Miranda
Captas fotos noturnas da praia, a onda vem e destrói tudo, vamos embora
Preparo-te vinho quente com maçã, pão com queijo
Deixo-te só na cama, solidão
Espraio, não volto jamais
Ofereces um cigarro, nego mais uma vez
Não tenho arruda, não te dou cachaça, falo que vou mas não vou
A noite, a bateria do celular acaba, ficas sem notícias minhas
Permaneço doente, bebo água suja
Imantizado assisto a palestra, perpassando imagens de natureza idílica
Procurarei os parelelepípedos, vou para o Tocantins
Coruja, amor já não há
Dia doze
Santa com mãos unidas em prece
Porco
Estrelas levitando sob nossas cabeças, enquanto reclinados na cama não nos falamos
Um pássaro pousa no galho, sob o olhar do gavião com penas em preto e branco, permanece imóvel
Tal qual teu olhar negro, castanho, azul
Sob tuas madeixas de sol acaricio tua lágrima que escorreu pela pele sensível
Desligo os abajures, a luminária
Recrio a fazenda que deixei para trás, a mata se regenerou
As paredes da casa caem, envelhecidas pelo tempo
No chão vermelho do galpão pousam tiês
Penduro roupa no varal, faço horta, vou ao rio
Não volto.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Insensato

A tosse não passa, como as idéias e tristeza, vazio
Saio a noite com poucas mulheres bonitas, hesito
Penso no fumo de teu cigarro a arder, queimar teu duplo etérico tal qual as bordas do papel
Vejo a necessidade de te recuperar além de mim
Roto, procuro moedas para comprar cigarros para ti, isqueiro
O frio rachando e eu doente de febre, não curo o lábio
A flecha disparada, a palavra lançada
Havia ainda um terceiro elemento do provérbio oriental, não lembro
Um cowboy, por favor, duplo
Fale mais
Não abra o vidro, esta tuberculose dos poetas de outrora
Planejo viagens, receio te ligar para não despencar das montanhas altas
Não possuo notícias da menina do Alentejo
A borracha do fone de ouvido se dissolveu, insensível
Derretendo no cinema, decifrando os temas de Ana
Blefo, dou o nome de mulheres que não existem às poesias
Enquanto a tuberculose me destrói, esta tosse forte, cheia de sangue
Odeio esta época, São João se aproxima e dá alento, quentão
Vinho não incorpado, sangue, benção, carmim, extrato de cochinilha
Yosemite, Joplin, os tornados atiraram meus telefones longe das mãos
Longe do Vale, dos penhascos, por isso tanta ausência bem
Brisa que sopra do mar, céu que se abre e mostra luzes
Nós dois sentados em bancos gélidos, ambos doentes
Mel dos olhos distantes que me curtem e não respondo
Doente
Culpa de quem?
Da Stella? Da Layla? Do Roger?
Você me pegou pela mão e levou embora
Um grau celsius
Zero
O vento é de outono, sabes
Detesto mulheres de coração derretido, adoro as frágeis
Na semana que vem retornarei a Campos do Jordão
Colocarei meu poncho e serei outro.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pétala Sagrada - Campos do Jordão/SP

Ana Paula

Você me vem com colibris brancos
Veneno de escorpião, chifre de touro, pata de sagitariana, pinça de canceriana
A era continua a ser Aquarius?
Estou esfacelado, com o nariz irritado da gripe
Tão sozinho, quieto apresentam-me poesia
Poesia, poesia, poesia
Mulheres que com um véu vão para longe
Nossas matas têm mais vida, tum
Meu destino está na rua, no cheiro cinza da fumaça
Morro e não percebo, me sinto como
Tua puta vende horóscopo
Deus é belo, somente amor e caridade salvam
O Cristo
Tudo em tua cama é tão acolhedor, com morfina não sentes nada
Lençol vermelho, tiê
O nome, os programas que vendes
Tua ânsia por trabalho, você quer o que, dinheiro?
Carneiro voador com pêlo de ouro, seca
Agreste, areia
Curvas em seios rosados, tatuagem de escorpião, arrepio com tua risada
Teu quarto escuro, fantasias e unhas negras, alopatia tomas todas as noites
Em que esvoaçam leões famintos, mais carneiros, centauros, pássaros de cor férrea fêmea
Tornados em Joplin, escondido no refrigerador estou para me proteger
Um beijo? Teu cheiro, meu nariz cinza, minha boca flácida
Duas mulheres iguais sobre a cama
Virgens.