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domingo, 12 de junho de 2011

São João

Estou cansado de te fazer sofrer
Com meu silêncio, minha ausência, meus devaneios
Minha poesia está cansada de te fazer sofrer
Com suas mentiras, sua presença, suas citações
Estouro uma ampulheta, piso nos cacos finos de vidro, corto o pé
Assisto impávido ao tornado em Joplin
Olho para todos os galhos da floresta em busca do tiê-sangue
Atravesso o braseiro em Mato do Tição no São João
Coloco bambus verdes na fogueira
Estouro uma ampulheta
Com meu chapéu-de-palha, o rosto pintado de carvão
Estou cansado de te fazer sofrer com meu silêncio
Meus convites se dissolvem em água
Prometo parar, te ligar, tirar fotos à noite na praia
Buscar estrelas-do-mar, tubarões, tiês-enferrujadas, siris fosforescentes
Cogumelos esverdeados em troncos queimados, como pés no braseiro de Jaboticatubas
Queimaduras de terceiro grau, camisa de flanela
Pinhão, gralha-azul, estrelas esvoaçantes, tuberculose
Vou me embora e finalmente irei parar de te fazer sofrer
Destruirei minha horta, colherei as mandiocas para o povo de Santo Antônio
No dia 29 de junho irei embora sob chuva intensa, com Pedro e Jesus
Retornarei em 19 de março de 2012, juntamente com a chuva de goiabas, com a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens
A barba amarelo-ouro, pés desgatados pelos paralelepípedos, cachimbo na boca
Tacape
Voltarei cansado de te fazer sofrer.

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