Cara ou coroa?
Em um avião distante voa para bem longe o meu amor
Neva, mas seu coração não é gelado como o das outras
Plainando, ela imagina um Brasil outrora pitoresco, a longa
marcha para o oeste
Ouro Preto e seus vestidos de cambraias na casa azul e branca
Ela imagina se perder em braços calorosos, ter afago, mimo
Em seus cabelos a luz do sol brilha, reflete, queima
paraísos, flutua
Meu amor voa
Se encanta com uma pequena borboleta, um pássaro vermelho, o
semáforo verde
Reclina a poltrona do aeróbus , sonha com o poeta cozinhando
caridade
Ovos de Páscoa pintados à mão, o nascimento da muda de
Pau-Brasil
Porta-sementes, revolve a terra úmida com seus pensamentos
Pensa em cair do avião com seus esquis em riste, sair
deslizando pela neve
Tomar sopa de letrinhas com a família sentada ao redor da
mesa oval
Recorda-se da nova Monalisa, das crianças com seus olhares
ternos
Da filha que há de vir, escritora de contos árcades,
viajante de vestido de cambraia
Esquece da camisa-de-força, do pedaço de ave que não foi
encontrado
Do poeta em desapego extremo
Voa amor, voa distante
Não deixe sua casa, suas roupas, seus perfumes, livros e
cigarros
Junho já se aproxima, vem o verão
Deitado na relva gélida, sem neve, ao lado da fogueira, irei
esperar o avião passar
Com os olhos todos derretidos
Arcaicos
Tupã fará chover chuva doce
Escalará pedras ríspidas o meu grande amor
Sentirá os ventos benfazejos do alto dos montes
Lembrará do que foi e do que já não mais é
Uma brasileira a andar de vestido de cambraia pelo Central
Park.
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