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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mirela MDCCLXXVIII


Acendo um cigarro sentado na pedra da cachoeira
Não vejo Oxum nadar, mas sei que está lá
Torço para que pegue em minha mão
Me leve ao profundo de seus beijos
Indivivenciais
Nosso amor é poético
Apagamos o carnal por um leve momento
Transformar água em fogo pode machucar
Peixes, deusa africana, Jesus
O mundo cairia em uma amnésia incomensurável
Por um leve momento
Irradiaria o amor mais forte do Segundo Paraíso
E ele iria contemplar os seres da escuridão, magos negros, dragões
Luz
Na junção da carne de Oxum com o lábio cansado de dizer adeus
Não há luta
Não há
O mar escuro me leva de volta a casa
Contemplo com o olhar perdido o horizonte, a chuva de hoje
As águas verdes da cachoeira
Os insetos sobrevoando os pratos
A viagem a acontecer, teu perfume, você na janela do ônibus, meu cabelo
Os insetos que um dia matei com imensa revolta
Suas almas me impedem de entrar na água
Através das suaves mãos de Oxum
Quando cai a noite sinto falta de estar próximo de teu coração
Vejo vagalumes brilharem, um raio de sol atravessar nuvens negras, fendas
Um vazio no corpo, no copo
Vejo cacetetes, o menino morto saindo do Ribeira de Iguape, ódio, incompreensão, ônibus atrasado, sexistas em passeata
Nada importa quando há amor
Não tenho dúvida.

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