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sábado, 17 de setembro de 2011

Apocalipse

Desculpe se adoro ganhar livros de presente em datas festivas
Você não deu
Volto impregnado de uma energia de jatobá, raízes aéreas
Fotos rasgadas, amores arquivados
Estava contigo no Congresso de Meio Ambiente, você se apresentava ao microfone
Cantava uma canção tão doce e tão triste
As meninas que estavam comigo logo abandonaram a platéia, insistiram para que eu fosse embora com elas
Hesitei e fui
Imediatamente você parou a canção e me encontrou atrás do palco chorando
Saiu pela rua e foi embora tentando pegar um ônibus, um táxi
Gritei teu nome, te chamei de volta
Você se foi
Logo encontrei um grupo de outras meninas que flertaram comigo pela calçada
Desde então meus sonhos têm sido assim, só provocação de fêmeas fatais
Belezas estonteantes
Beijos roubados, forçados, carinhos
Acordo e me deparo com o frio, o sol, a mata
Dirijo muito, dirijo demais
Quanto mais você destruir mais nervoso ficarei
Pisarei mais fundo no acelerador, em teus calos
Comi o livrinho, meu ventre se tornou amargo como fel
Mas as palavras que saem de minha boca são doces como mel
(Cai meteoro, cai satélite)
Alimento-me em casa de taipa
Relembro de teu óculos escuro
Translúcido
Teus dentes brancos que fazem meu coração insensível ficar um pouco menos frio
Vim da Alemanha, da Floresta Negra
Estabeleci sintonia com o samba, o negro, a feitiçaria da paixão
Ao amor incondicional indígena
Tenho cachos de anjo
Asas de nascituro que não voa
O tiê vermelho voa, mas não encontro indícios pelas trilhas
Fotografo tua alma
O tronco da árvore sangrando após o incêndio
As raízes aéreas do jatobá
A copa do cedro, o rubro bico-de-papagaio
Na casa de taipa como morangos silvestres, nêsperas, bolas brancas
Livrinhos de verdades incomensuráveis
O Cristo que te salva e te abençoa
As meninas bonitas que aparecem e te provocam arrepios no ouvido
As diversas camas em que repousa teu corpo e apenas repousa
A motosserra cantando, o carvão armazenado, o forno
Meus caracóis de anjo, leão
Quer ir comigo?
Não!
Não...
Vou (silêncio)
Televisão, ronco de motor, tua canção doce
Olhos derretidos, engavetamento de fotos, faça-me um café por favor
Passei o dia tão triste, pensando em te ligar, mas já não sei como, o que falar
Caminho com a espada em uma das mãos, o livrinho no ventre
Os olhos já não estão mais vendados apesar de que, quando me deito, as provocações das meninas lindas acontecem
Só param quando acordo, abro a porta de um quarto que não é meu e lá fora há neblina
Araucária angustifólia
Me convidam para a Serra das Mesas, a casa de taipa
Sinto desejo da Califórnia, de vinho ácido do deserto, bife na chapa
Mais um beijo, sapatos secos, calças justas
Um mapa e uma navegadora para singrar o mar
Como nêsperas mas não consigo te esquecer
Me alojo em topázios, esmeraldas
Você não está em brilhantes, cristais, sonhos tristes
Queimo poesias, ardo no mármore, no campo, na floresta verde
Acabo com a grafite e a dor com apenas um tapa
Em teu rosto de papel, teu vestido de cambraia coloco fogo
Caio em absolutamente todas as provocações
Admiro cabelos longos de sol
Preencho com álcool, céu
Sopro nuvens alvas para longe
Transpiro o psicodélico, todas as luzes do amor
Fecho a porta dos quartos que não são meus
Não há café, música, comida, luz
Água que desce da montanha
Chá quente de camelia sinensis
Mesmo assim encontro alguns regenerantes na mata, reconheço as folhas secas, tais quais a do livrinho
(Saudades de Alice)
O País é me coração
(Meus sonhos são somente provocação).

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