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domingo, 17 de julho de 2011

Macário

Tuas roupas de menina no armário
Vidros de perfume sobre o mármore do banheiro, lápide
A cama desarrumada
São Paulo pela janela cinza, carros a passar
No litoral sul a restinga se regenerando
Atingindo estágios primitivos
O ponto G sumiu, você foi embora sem blusa, sem calor algum
Abro mais uma garrafa de malbec, mato
Venderam a chácara, os palmitos
Previ construtores destruindo a mata ciliar, construindo em áreas não permitidas pela legislação vigente
Aqui tudo é cinza, nada suave, São Paulo
Paulo de Tarso, o qual foi curado no deserto da cegueira pelo Cristo, conheço pouco
Cada vez me conheço menos
Não sei o que é caridade
Creio estar ficando louco, saio pela casa falando só, palavras tão desconexas, nem poemas viram
Sinto falta de um amor, não olho para frente, vivo do passado que hesito em voltar
Ninguém me acompanha, viaja comigo, me dá beijos amargos, pede para acelerar
Ninguém
Fostes para a América como águia vespertina
Fiquei procurando plumas vermelhas de tiê nas matas do Sul
Penas robles, bagos de uva
Gosto esmaecido, tudo tão triste sem paixão
Fostes para as serras de campos gerais, lutar pelo ouro
Perdi minha companheira, a menina dos perfumes em cima da pia sacra
Enquanto o padre reza, meu espírito caminha para a procissão, um leitão é abatido, o bagre cavernícola nada, se esconde da luz
É inverno
Abelhas não produzem mel no frio
Cessa a ressaca na praia
Por favor me esqueça, não aguento tuas energias de saudade invadindo meus sonhos
Tuas fotos de empórios, música, em endereços eletrônicos
Ausência de resposta no Alentejo, cisão
Cristo na cruz, lágrima de vinho escorrendo em taças de cristal
Aromatizador de ar
Flores exalando pólen
Abelhas polinizando sob neve
Falta teu sexo, corujas gigantes, bancos perdidos na praia escura
O facho de tua boca de luz a penetrar meu espírito
Estás nas serras, trabalhando o fog branco americano
Fazendo fumaça, não amor?
Posso te pagar um telefonema, uma taça de vinho?
Cataia?
Beberás comigo, muito?
Esqueçemos o casamento na Igreja, no cartório, a festa
Na Igreja de Santana pingamos colírios em nossos olhos derretidos
Nos beijamos
Com gosto mavioso de tanino na língua enlouquecemos
Colocaram-nos uma camisa-de-força em cada um, nos levaram ao aeroporto
Direto para Nova Iorque
Nos empurraram para dentro do yellow cab, não conseguimos fazer amor por causa da camisa-de-força
Mas quando nossos olhos se cruzaram faíscantes
Nunca houve amor tão belo
Passavam as luzes de Times Square
Observava em tua face, teus longos cabelos, a imagem de uma santa
Faltava o véu branco de linho, claro
Mas tal não foi fator impeditivo para ver minha santa
Aquela que iria me salvar da loucura que invadiu meu ser
Das palavras desconexas recitadas só em casa
Dos olhos que não derretiam
Não viraram poesia
Da amante de Drummond em seu velório
Do vestido de noiva que o Dr. Tomás não conseguiu terminar
Das madeixas perdidas na África, não na Bahia
As maldades que fizeram com Bárbara Heliodora
O filho de Marília
Os olhos verdes de Chico
Fado
Além do Tejo há mais uva
Mas meu vinho predileto está na Argentina, para onde vou assim que me retirarem desta camisa-de-força
Açenda um cigarro para mim, por favor amor
Acelero pela restinga
Pensando em  teus vestidos finos, floridos como raio de sol
Guardados no armário
A porta de tua casa é ampla, cantaria fina
Quando entro, imediatamente sinto cheiro de canela
De outras meninas com vestidos floridos não tão lindos como o teu
Mas muito alegres, sorridentes e prestativas
Me olham como se eu fosse o poeta
Sinto um desastre preeminente
Um sertão invadir a alma, sem o frio das serras, da pedra-menina
Alguém tem uma camisa-de-força forte?
Um morro, uma forca?
Faca para pulso, Evangelho?
Paulo e Estevão?
Fumaça cinza, estás de volta à São Paulo lindo
Nova Iorque soa distante, como se nem tivesse pisado os pés lá
Que fome que tens hein garoto?
Tuas mãos, o chão de nossa casa salgado
Abres um frasco de perfume, um daqueles que estava sobre a pia negra
Meu nariz escorre, quer mais, sangra como a fumaça irritante de São Paulo
Quem viu bandas tocarem ao vivo em casa quer ver a santa dançar com roupas minúsculas pela restinga
Sem roupas
Coloco os óculos escuros de abelha que você me deu, meus olhos começam a derreter
Relatar a alma de poetas mortos
Liras dos Vinte Anos
Rasgada a camisa-de-força, te pego pelas mãos doces
Meladas de mel
Te levo para passarmos a noite na Taverna
Para que possas ver meus cachos sob luz crepuscular
Se derreterem como ouro, como chakra ativado, luz fluidificada, amor
Na taverna voam tiês enérgicos, corujas gigantes, pássaros de fogo
Ouve-se o som de aviões partindo para Nova Iorque, ondas de ressaca destruindo todos os obstáculos que encontram pela praia
Levando embora os bancos perdidos
A saudade do Alentejo
Dos paralelepípedos de Ouro Preto
Das Margaridas brotando em pedras ásperas
Alentejo
Lembras, amor?
Gaviões, araucárias, gralhas azuis, fogo, pedra?
O perfume de teus frascos refletem por todo o ambiente
Soube agora que um tenente se enforcou
Ele estará relatado para sempre em minha poesia
Por ele oro e peço: não atentem contra a vida nunca!
Rezem por ele, em sinal de respeito
Falem, exacerbem amor
O amor é a única forma de nos encontrarmos com Deus, mesmo estando só
Loucos
Recitando sós palavras desconexas em casa
Rezo por Kurt, outro suicida
Rezo por Cássia, Cazuza e Raul
Álvarez, Fagundes, Sócrates
Pelo estupro das virtudes, venha com intenção de guerra, armas engatilhadas
Sexo em chamas, pássaro de fogo, mata verdejante
Trinta anos
Amor intenso
Balzac, Pessoa, tempo
Desde 2007 as uvas vem curtindo amassos, rolha, pressão, luz pouca
Plata
Em 2011 tudo terminou e pode voltar
Metade do homem que eu era, um poeta
Uma nova champangne
Feita de uvas puras, perfume de borbulhas
A você que disse implicitamente, não te amo
Sumí, desapareci do mapa, fui na asa da tiê
Borbulhas
Em uma camisa-de-forças, em Nova Iorque, na mata
Te digo que beijo tua boca, teu sexo e toda a luz que puder me proporcionar
Pois estou ficando louco. Saio falando palavras desconexas pela casa
Venderam a casa, o policial se suicidou, a restinga está quase atingindo estágio primitivo
Nunca intocado, de regeneração meu coração se ressente
Abro outra garrafa de malbec, Macário
Noite na Taverna, Lira dos Vinte Anos, Túmulo
Perfumes sobre a lápide, indie
Foi ela quem pela primeira vez me mostrou os prazeres do sexo
Recarregou o fluído de meu isqueiro
Ao lado dela ouvi o piado da coruja gigante, fui para o Alentejo, viajei ao pé da serra
Fui mordido por javalis imensos, vi neve, Nova Iorque, o Vale
O leitão morto no forno queimou, você me beijou em agradecimento
Completaram meu copo com batidão, paralelepípedos escorradios, frio de inverno
Festival
Corpo putrefado, macário, necrofilia
Camisa-de-força, por favor
Loba da madrugada, com suas orelhas antenadas, crucifixo no peito, Judéia, Paulo, cegueria
Amor
Amor
Amor
Romã, beijo na boca, aeroporto John F. Kennedy
Olhos derretidos, pássaro esvoaçante, tecla de piano, calcinha mollhada, restinga, coruja gigante, camisa-de-força
Beijo, só isso que preciso, meu bem!
É tão tarde, por que não dormimos?
Vendastes meus olhos e tudo parece escuro, macábro
Como as flechas em volta do túmulo na São Francisco
Castro Alves voltou a Minas, mas sem Marília
Oh!!!! Que tristeza com Marília.
A Eterna amada, das longas madeixas, do filho
Auxiliada por Aleijadinho foi te visitar Dr. Tomás, seu bruto, insensível homem (Não adianta para mim psicografar)
Há de retomar o amor eterno! Seu bruto! Esqueça Dijanira! Marília te amou, ainda ama...
Tomás, acorde!
Não vês as obras de caridade que ela faz pelo universo, junto de Paulo?
Se prendes a poesias, camisas-de-força, restos?
Tomás, Marília está em Nova Iorque! Acorde, homem!
(Penso na Argentina, em Mendoza, onde produzem malbecs, o que tomo é de 2007, La Plata)
Não, não Tomás!
Beber vinho, assar leitões, este definitivamente não é o caminho!
Lindo, costure um sofá vermelho, abra meus frascos de perfume, agite-os ao ar
Derrame-os em mim e me encha de beijos
Não vês que estou toda aberta para você?
Exalando sexo, vontade, liberta da camisa-de-força? De Nova Iorque?
Do filho, da Bahia, da África?
Se Tiradentes nos olha hoje, com seu olhar de 360º, olha para a Casa Bandeirista, onde tive nosso bêbê
Você trabalhou lá, lembra amor?
Fazias trilhas todos os dias, esperava o lobo amarelo, pensava em mim, lia poemas de Tomás
Amava tanto
Com gosto apurado, noites brancas e frias, cabelos em fogo, vermelhos vermelhos
Pássaro de fogo, te abençoo
Abençoai-me Cristo!!!!!
Água-benta, imploro
Sexo
Beijo, amor, estou tão triste, louco, perdido
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Das serras
Rios
São Paulo
Fumaça, coloque o escapamento em minha boca, ligue o carro, acelere na restinga, na Bahia
Vende meus olhos, por favor!
Abra os frascos de perfumes.
O tempo puro?
Está chegando?

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