Minutos para o outono bater à porta
Não nos molhamos com a chuva da praia
Muito menos na escuridão da caverna
Brilhou a luz de um beijo
Apenas contemplamos a chuva de algum lugar imaginário
Dentro de nós dois
Ausência
Folhas caídas
Uma cidade histórica
Igreja sem tapete vermelho
Javalis mansos, centauros, caranguejos
Palavras ao vento
Cabelos negros, nariz arqueado
Papel para cigarro
Ausência
Calor de pensamentos
Gosto
Não tenho mais notícias de ti
Imagino-a no ônibus, percorrendo a estrada que não rodamos
A estrada que não desgastou a borracha dos pneus
A linha da mão
Rápidos, vislumbramos vultos de ciganas com longos vestidos vermelhos na beira da rodovia
Misturados aos índios, seus colares e miçangas
Acordei com o fogo do verão, mas é o outono quem bate à porta
É a chuva quem me leva ao âmago do livro em teu corpo
Escreves o desconexo
Rápido
Com tinta de água
Perpassando o solo da caverna
Escreves
Branco e azul
Restinga
Chuva
Amor
Fazes perguntas às máquinas
E as máquinas te respondem um não sei o quê em italiano
Acompanho mudo
Desejo te ver
Busco carona nas costas do javali
Mas o javali e a neve não vêm
Vem a chuva
Solidão
Desejo
Repetição
Vem o outono bater à porta, me chamar para sair
Não vou
Sem você não vou
Os domingos, teus cabelos negros, os três filmes
Qualquer coisa que me dê
Faço delas um mundo imaginário
Só, para nós dois
Só
Como uma linda criança
Seu choro e o outono
A flor que se cair, levanta
As folhas secas e pardas no chão
Escreves pinturas ruprestres nas paredes da caverna
Perto, emano luz e calor
Após ferver os vestidos das ciganas
Te faço tinta vermelha
Pincel
Temporal
Sempre a chuva ácida
O pomar, a maçã envenenada
Estalactites e estalagmites
Arpões, como a mais guerreira das centauras
Flechas meu espírito azul
Esvaio-me em branco
Busco javalis
Desfaleço
Afagas então meu ser nú com desvelo
Água doce, sempre doce
Lua cheia
Centauro, sangue na neve
Branco
Afago teus olhos com meus olhos sequiosos
De saudade, chuva
Água
Em nosso mundo imaginário, no interior da caverna, distante da praia
Afagas meus cachos
Enquanto inutilmente o outono bate à porta
A poucos minutos de ti.
Descrevo aqui as coisas simples da vida, combinando meio ambiente, fonte de inspiração, à poesia. Ao revés da aura que ronda o espírito da vida, espreitando destruição, busco demonstrar, através das palavras que a poesia e o belo não morreram. Revivem em sua chama infinita, sob a benção do Grande Arquiteto do Universo. Somente o amor entre os seres, traduzido em versos de cristalinos matizes, move o mundo. Preservai o que é belo.
Por detrás da mesa, dos processos, das viagens a serviço, desponta um poeta árcade insuspeito =) Parabéns, João!! E não pare de germinar o mundo com sementes de poesia, certo?!
ResponderExcluirMad [/)]
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