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sexta-feira, 4 de março de 2011

O Sonho

Vens por que esbaldar lágrimas em meu sonho de criança?
Não vês a deploração de meu estado cansado?
(Louco, torporizado de amor)
Um bêbado chateado, um chato embebedado
Choravas e procurava se agarrar em mim com os restos de uma esperança
Procuravas consolação e te ouvi
Mas outro vinha e te aquecia mais que o Verbo
Te levava embora por aquele corredor amarelo e escuro
Em um relance já não estava mais lá
Como uma santa, uma aparição repentina e repetida
Mais uma vez você foi
(Você se foi) para nunca mais voltar
Voltar para sonhar em meu sonho de criança
Vai, destrói, dilacera mais. Vai.
Faz ver dentro de mim a criança
Jogue-a de cabeça ao chão
Mate nosso filho, toda dor
Outra. Outros filhos morreram (Ele)
Ela, a Santa, está em Calcutá, fiando e lendo
Guias sexuais em transe, revelações sonambulicas
Aqui, em meio ao luto, ele se foi
(Exatamente nesse local) E você?
Por que vens chorar tristezas justamente nesta hora?
Por que não vens trazer a Boa Nova?
Lêste a Bíblia com a própria alma?
Ofuscou-se em Damasco, nas portas da cidade?
Quem foi aquele loiro, com barba grisalha, que te levou para longe, antes de terminares teu choro?
Ponto de interrogação mal compreendido
Exclamação mal intensionada
Quem foi?
Teria ele força suficiente para te querer bem?
E se ele te causar mal, onde estarei?
Sentada à mesa, a cartomante vidente diz ter acontecido um crime aqui
A morte de nosso filho.
Era por isso que choravas em meu sonho infantil?
Ou era o medo de não ser amada em vida?
Em um poema triste como o adeus da criança que parte
Soam vozes
Escrevem-se palavras.
Você foi embora.
Não há mais choro.
Apenas silêncio e sonho.  

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